segunda-feira, 18 de abril de 2011

O preconceito e a sociedade

Vivemos numa sociedade que não tem condições para receber pessoas que se enquadram num determinado padrão. Mal vimos uma pessoa portadora de deficiência, vimos o quão é diferente.
As escolas, centros comerciais, restaurantes, transportes públicos, entre muitos outros locais públicos, não estão preparados para receber pessoas com deficiências físicas, visuais e/ou mentais, que aos olhos de grande parte da sociedade são vistos como os ‘atrasadinhos’, quando na verdade são apenas pessoas.
Vivemos num mundo cheio de questões e incertezas, em que todos nós estamos à procura de um lugar onde nos consigamos inserir, à procura de alguém que olhe para nós e veja para além da aparência.
Na Declaração Universal dos Direitos do Homem, há uma cláusula que diz “ (…) As pessoas deficientes, qualquer que seja a origem, natureza e gravidade das suas deficiências, têm os mesmos direitos fundamentais que os seus concidadãos da mesma idade, o que implica, antes de tudo, o direito de desfrutar de uma vida decente, tão normal e plena quanto possível.” (Resolução ONU nº 2.542/1975, item 3), mas infelizmente, esse direito muitas vezes não passa do papel.
O preconceito, como o próprio nome diz, é um conceito formado previamente de acordo com uma certa ideia, que afecta os portadores de deficiência e não só.
Olhar de maneira diferente, não interagir com essas pessoas por acharmos que não são capazes de fazer algo, são atitudes preconceituosas.
O preconceito está na cabeça das pessoas e a única forma de o combater é através da consciencialização, porque é isso que irá mudar o que pensam.
Para nos vermos livres de preconceitos é preciso que se viva numa sociedade livre!



Maressa Reis, Fevereiro de 2011

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Láthatatlan Kiállítás

    No âmbito do Projecto Comenius fui a Budapeste, onde tive a oportunidade de participar numa ‘Invisible exhibition’ que consistia em andarmos por várias salas completamente às escuras com vários obstáculos, apenas sendo guiados por um cego.
Esta foi sem dúvida uma actividade muito diferente porque pude, em primeira mão, experimentar ser ‘cego’ por um tempo e por isso ter os meus outros sentidos ao máximo, utilizando o tacto e a audição para me guiar pela escuridão sem tentar cair ou partir nada.
    O guia David, que era um homem muito querido, transmitiu-me segurança e fez-me perceber que naquele momento não havia qualquer espécie de ‘muros’ levantados entre mim e ele porque estávamos os dois na mesma situação.
    Senti-me mal no momento em que a actividade acabou, porque quando saímos da sala eu sabia que iria ver novamente e, ao olhar para o nosso guia, fiquei incapaz de me sentir realizada por este feito, pois eu também sabia que ele nunca veria a minha cara, nunca entenderia a diferença física entre as pessoas de outras nacionalidades, nunca veria o olhar de admiração que estava estampado em todos nós.
    Fazer parte desta experiência mudou a minha vida, no sentido em que agora sei que não devo ter pena mas sim orgulho e admiração porque estas pessoas, que carregam consigo o peso que é ter uma deficiência, nunca cruzam os braços por mais dura e preconceituosa que seja a situação e enfrentam qualquer desafio que lhes seja proposto porque no final de tudo são humanos como nós, e, tal como nós, gostam de ter o seu momento em que partem para a aventura. Mudou a minha mentalidade, porque sei que quando pensar em desistir, dizer não consigo lembrar-me-ei do David e de todas as pessoas ‘diferentes’ mas corajosas que conheci.


 Inês Barroso

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Asas de Ferro

“Asas de Ferro” – Repórter TVI
Reportagem emitida pela TVI a 22 de Fevereiro de 2010, que nos leva ao mundo da Manuela, do Francisco e da Rosalina, da Sandra, da Elsa, da Manuela, da Rita e da Inês, do Marco, da Mafalda e do Manuel, todos eles têm algo em comum: a paralisia cerebral. Retrata a ‘’angústia dessas famílias e a força e a coragem de quem não quer desistir’’, angústia que não fica no silêncio.
Manuela tem 54 anos, tem saudades de sair de casa, diz não se lembrar do barulho da chuva na calçada. Vive com o pai de 90 anos, num 1ºandar sem elevador, está há três anos à espera de uma vaga para um lar residencial para deficientes (há quem esteja à espera 14 anos).
Tem consciência da existência de muitos preconceitos e que se tivesse mais meios financeiros, teria uma vida melhor. Para ela é bastante difícil estar da maneira que está, sofre muito porque além de ter paralisia, não sai de casa. Estudou, muitos diriam que pela sua letra não sofreria de paralisia cerebral, no entanto nunca lhe deram emprego.
Francisco teve direito à primeira cadeira de rodas eléctrica aos 52 anos, o estado não o ajudou, a sua mãe, Rosalina, conseguiu-a através da boa vontade de uma empresa.
Francisco arrasta-se pela casa, conseguindo assim fazer tarefas domésticas, como aspirar e fazer a cama. Salvou a vida à própria mãe quando esta teve um AVC: mal viu a mãe caída no chão, arrastou-se até à entrada do prédio e pediu ajuda a um vizinho. Agora tem muito receio de sair de casa, pois teme que a mãe tenha outro AVC.
Sandra tem 37 anos, esteve oito anos em lista de espera para conseguir uma vaga na Residência Nuno Cruz de Abecassis, em Lisboa, toda a vida cresceu atrofiada numa cadeira de lona para crianças. A cadeira que ela precisa custa oito mil euros, pode-se garantir que terá uma cadeira de rodas, mas quando? Ninguém sabe.
Elsa tem 34 anos, escreve poemas, voando para outra realidade quando o faz. Elsa conseguiu uma vaga na Residência Nuno Cruz de Abecassis, para alívio da mãe que descobriu há pouco tempo que tem cancro. Elsa conheceu António, o seu namorado, há cinco anos no centro de paralisia cerebral. António, até a conhecer, vivia da caridade das outras pessoas e numa casa sem água nem gás.
Rita e Inês são gémeas, dividem o seu tempo entre a escola, fisioterapia e terapia da fala. Rita diz muitas vezes à mãe que tem que trabalhar mais certo músculo quando vê que esse se encontra mais ‘preso’ pois quer tirar a carta e ir para a faculdade.
Marco tem 20 anos, e é um exemplo de como tudo falhou: o seu centro de actividades ocupacionais, em Évora, fechou de um dia para o outro, o que fez com que ficasse em casa e regredisse bastante. Ficou praticamente isolado do mundo, quem trata dele são os avós, é dependente destes para tudo, tornando-se o único prisioneiro do seu próprio mundo.
Manuel consegue movimentar-se, não usando cadeira de rodas para ir para a faculdade, formou-se em Engenharia Electrotécnica com média de 17 valores, já completou um mestrado estando, na altura, a tirar o doutoramento. Diz que nunca vai desistir, e é um bom exemplo disso.
Ao ver esta reportagem sensibilizou-me bastante o facto de estas pessoas não desistirem, de serem um exemplo de vida, até para nós que somos ‘normais’. Muitos não desistiram e, por mais que a sociedade ainda não esteja ‘preparada’ para os receber, eles conseguem mostrar que estão tão aptos como qualquer outra pessoa para terem o direito a uma vida dentro dos padrões normais.
O caso da Elsa, que escreve poemas lindos, é o seu refúgio, quem os ler não diria nunca que são de uma pessoa com paralesia cerebral, a Manuela também tem estudos mas infelizmente nunca conseguiu trabalho, lá está, quem é que daria trabalho a uma pessoa portadora de deficiência quando poderia ser dado a outra qualquer?
O caso do Manuel, para mim, é uma grande vitória quantos de nós nos licenciaríamos com média de 17? Ele apesar das suas dificuldades, lutou sempre para ir mais além e conseguiu, é um exemplo de força para todos nós.
Estas pessoas foram ‘esquecidos por quem nunca se devia esquecer deles’. Esta reportagem deu visibilidade não só ao caso deles, como também a muitos outros casos semelhantes que não dão a cara, mas infelizmente, sofre também, casos que agora, podem ter a força de quem passou por isto, e que melhor que ninguém, os compreende.

Poema de Elsa:

« Queria poder voar
   Onde o vento me quisesse levar
   Voar sem destino,  apenas voar
   Mas algo me impede de ir ter com as pessoas que valem ouro
   O cérebro, a coluna, a cadeira ou o corpo todo?
   Não sei
   Fica só o sonho de poder ser uma gaivota,
   Voando sobre a brisa do mar. »


Margarida Leite